As unidades de medidas tipográficas se dividem em absolutas e relativas. Controlar o tamanho, as distâncias e os espaços é uma das necessidades fundamentais tanto no trabalho de design tipográfico quanto na composição de textos.
Daí a importância do conhecimento de algumas unidades de medidas específicas da área tipográfica.
Medidas tipográficas absolutas
A unidade de medida absoluta mais importante é o ponto tipográfico ou ponto americano.
O ponto já existia há centenas de anos, quando, em 1883, nos Estados Unidos, a entidade U.S. Type Founders Association estabeleceu e regulamentou sua medida igual a 0,0138 polegadas, o que equivale a aproximadamente 1/72 polegadas.
Como uma forma de facilitar os cálculos e permitir uma melhor correspondência entre unidades tipográficas e medidas inglesas, a Adobe definiu nos anos 1980 o que passou a ser conhecido como ponto PostScript.
Nessa definição, o tamanho do ponto foi arredondado para exatamente 1/72 polegadas. A unidade acima do ponto é a paica (pica). Cada 12 pontos perfazem 1 paica e 6 paicas equivalem a 1 polegada.
A paica é uma unidade usada para medição de dimensões maiores que incluem páginas e elementos de páginas, como comprimento de uma linha de texto, margens e mancha de texto, principalmente em países de língua inglesa que ainda não aderiram ao sistema métrico.
Na figura abaixo temos uma régua graduada em paicas com a subdivisão em pontos PostScript. Ao centro, sua equivalência em polegadas.
As linhas em azul abaixo foram dispostas com uma distância de 12 pontos entre elas e formam uma grade com medida absoluta de 60 pontos. Observe que o tipo de 60 pontos se acomoda dentro destas linhas, mas não tem exatamente a mesma media.
O tamanho de um tipo é medido a partir da linha das ascendentes (topo da haste ascendente mais alta), até a linha das descendentes (pé da descendente mais baixa).
O sistema de pontos foi criado para os tipos de metal. Quando fundidos, esses blocos deixam um espaço vago para que haja uma distância entre as linhas ao sere compostas.
O tamanho do corpo de uma fonte, medido em pontos, é o tamanho do bloco de metal, e não da letra gravada sobre ele.
Na imagem abaixo você pode ver o tamanho (corpo) de uma família tipográfica construída em tipos móveis metálicos. Perceba que há um espaço entre a linha de base das letras minúsculas e o limite do tamanho da peça metálica.
Este limite é inexistente nas letras com ascendentes ou descendentes (vejas por exemplo as letras b, d, g, j, p, q e y), algo característico desta família de fontes, mas que pode variar entre famílias tipográficas distintas.
Embora as medias em pontos sejam absolutas, por causa da construção e do desenho de cada tipo, o tamanho real de cada um é diferente.
Observe que os tipos da imagem abaixo possuem exatamente o mesmo tamanho, 18 pontos (tamanho da altura do bloco de metal), mas cada um parece ser maior ou menor, dependendo de seu desenho no bloco metálico.
Medias tipográficas relativas
Algumas medias tipográficas são relativas ao tamanho do tipo que está sendo composto. Um quadrantim, ou eme, de um tipo com 60pt mede 60 pontos. O meio quadrantim, ou ene, é igual à metade de um quadrantim.
Essas duas medidas são usadas para definir os traços, as frações e o espaçamento, e são muito úteis, uma vez que a medição está diretamente ligada ao tipo, conforme o tipo aumenta, o mesmo acontece com o espaçamento.
Eme ou quadrantim
O eme ou quadrantim é uma unidade de medida derivada da largura do corpo quadrado de um M de caixa-alta fundido.
O eme pode ser definido com a unidade de medida que é sempre equivalente ao valor definido para o ponto do tipo, numa determinada configuração.
Se temos o ponto do tipo estabelecido em 10, o eme também será de 10. Se ajustarmos o ponto para 14, o eme passa para 14, ou seja, a unidade relativa está ancorada à unidade absoluta.
Um eme é igual ao tamanho de um tipo em determinado corpo, ou seja, o eme de um tipo com 60 pontos é 60 pontos.
Nos estados Unidos, o travessão, que tem a largura de um eme, é usado para recuos de parágrafo e para denotar cláusulas aninhadas.
Ene ou meio quadrantim
O ene ou meio-quadrantim é uma unidade de medida igual à metade de um eme. O traço com esta medida é usado na Europa para designar as clásulas aninhadas.
Também pode ser usado para significar “até” em expressões como “Capítulos 10-11” e “1975-1981”. Um traço ene também é utilizado para significar “e”, por exemplo, entre dois sobrenomes na lombada de um livro.
Hífen
O hífen tem, geralmente, um terço do comprimento de um eme. Ele é usado para separar as partes de palavras compostas, para ligar as palavras de uma frase na hifenização adjetiva e para conectar as sílabas de uma palavra que foi dividida em linhas separadas.
Aplicações para medidas tipográficas relativas
Uma das medidas que é expressa em emes é a largura dos glifos. Dentro de uma fonte, esta medida é estabelecida em frações de emes, que podem alcançar a casa dos milhares.
Se a unidade empregada fosse absoluta e desejássemos, por exemplo, digitar um texto, necessitaríamos de uma lista com as larguras absolutas de cada caractere para cada tamanho de tipo que utilizássemos.
No entanto, com as medidas relativas, é necessário apenas uma lista de larguras incluindo todos os caracteres em uma fonte. Na figura abaixo aparece parte da lista de um arquivo de medidas de uma fonte digital, contendo instruções para as letras minúsculas de a até f.
As medidas relativas simplificam o processo de armazenamento de dados em uma fonte. Uma única linha contém o código correspondente a um caractere específico seguido de sua largura relativa e da área que o seu glifo correspondente ocupa em coordenadas cartesianas.
Assim, quando um usuário digita um texto e define o tamanho da fonte para 12 pontos, o sistema operacional do computador irá acessar esta lista e calcular a proporção entre o tamanho do ponto utilizado e a fração de emes definida para cada letra.
Os diversos ajustes do espaço entre as letras também seguem esta regra, isto é, são medidos em frações de eme. E desta forma também o espaço ene definido como a metade do espaço eme, e o espaço fino, que em geral é de 1/4 do eme.
O espaço de palavra é mais um a ser estabelecido em frações de eme, mas pode ser alterado, isto é, comprimido ou expandido no momento da composição de um texto, no processo conhecido como justificação.
Por último, faz parte desta lista o quadrado eme, que é a área na qual todos os glifos de uma fonte são criados e subsistem (o tamanho do bloco de metal, lembra?).
Conforme a imagem abaixo, dentro deste espaço situam-se cinco linhas de referência fundamentais.
Estas linhas formam o que denominamos de pauta tipográfica, sendo a linha de base aquela em que as letras irão se assentar (para mais detalhes, leia o texto sobre a anatomia dos tipos).
A linha média passa pelo topo da letra x minúscula e a distância entre a linha de base e o topo desta letra recebe o nome de altura x, sendo referência de altura para construção das demais letras minúsculas.
A altura da ascendente e a profundidade da descendente marcam respectivamente até onde alcançam as ascendentes e descendentes das letras minúsculas.
Para um mesmo tamanho de ponto, as distâncias das linhas podem variar de face para face. Na imagem, o exemplo de cima, a face SIL Gentium tem uma grande distância entre a linha das ascendentes (item 5) e a linha das maiúsculas (item 4).
O mesmo não ocorre no exemplo de baixo, na face Bitstream Vera Sans Roman. A altura x é maior em relação à altura das ascendentes, na face Vera. Já a altura das ascendentes é expressivamente maior na Gentium.
Entrelinhas
Ao digitarmos um texto, a entrelinha é calculada na unidade absoluta de pontos. Conforme a imagem acima, a entrelinha se mede a partir da linha de base de uma linha de texto em relação à linha de base da linha que a precede.
Todo esse conjunto de medidas pode parecer numeroso e complexo, mas, na verdade, sua compreensão deriva diretamente do entendimento de como operam apenas duas medidas: o ponto (medida absoluta) e o eme (medida relativa).
Uma vez aprendidos seus conceitos, os demais termos que advêm deles podem ser vistos como desdobramentos em múltiplos e submúltiplos, que permitem simplificar as medições e os cálculos em escalas maiores e menores.
Para a construção deste artigo, foi de extrema relevância a dissertação de mestrado de Sergio Luciano da Silva, disponível neste link. Fiz o upload de uma cópia neste link caso o original fique indisponível.